NOITE DE ESTRELAS Faz muitos anos…Mas o tempo traz-nos á memória coisa que teríamos há por esquecidas se não perdidas, mas que relembradas acabam por nos fazer encher de satisfação pelo que lembramos e por pensarmos quanto o nosso cérebro é complexo, belamente fabricado e tão bem estruturado.Depois de ter assentado no meu primeiro poiso em terras do Amboím mais propriamente na Gabela fui cada vez mais me entranhando e tentando conhecer, apreciar, juntar e valorizar aquela vastidão calmo de cafeeiros que quer quando a sua cobertura era verde na folhagem e no bago de café ainda verde, quer quando os bagos se tornavam cerejas avermelhadas dava diferentes aspectos mas sem conseguir acentuar mais este ou aquele.O café necessita de muito sol mas também de muita humidade, características que não faltavam naquelas terras mas uma outra necessidade era essencial ser satisfeita: a sombra era-lhe indispensável e então agora pensem numa extensão tão colorida coberta de chapéus naturais de grande circunferência que lhes proporcionava sombra necessária e que eram feitos de umas árvores de grande porte a maior delas chamadas de mulembas.Que beleza de espectáculo!Imaginem também que nessas árvores também se abrigavam e alimentavam as rolas e os pombos verdes que eram de porte mais robusto e muito velozes e que com pressão de ar serviam de caça também para quem gostasse, claro.Já também com alguns conhecimentos de maleitas tropicais quando me é anunciada a minha transferência mas desta vez para um panorama diferente.Tratava-se de exploração pela mesma Companhia – Companhia Angolana de Agricultura –C.A.D.A. , mas na vez de café eram palmeiras que se tratava numa terra a que o abraço de dois rios com casamento, o Longa e o Nhia se transformaram em um dando o nome àquela Fazenda -Longa Nhia.Numa viagem sobre a qual já escrevi acabamos por entrar palmar adentro e que outro espectáculo o de extensões impensáveis de palmeiras de uma qualidade que dos frutos carnudos e de tamanho de tangerinas se extraía o óleo de palma ou seja o azeite de Angola que de saboroso para qualquer cozinhado servia. Já falei nele, na sua textura e no seu magnífico sabor. Ainda hoje o usamos em especial na Moamba, prato especial daquele País.Era um outro espectáculo visto e vivido debaixo de um sol uma alegria, e era tal que fazia com que se necessitasse de um horário especial : começar cedo o trabalho, interrompe-lo pela hora do almoço e recomeçá-lo á tardinha.Era um paraíso mas bem quente…Aí tive a indescritível alegria de ver nascer o meu primeiro rebento, uma Menina, a Fátima que fez quatrocentos quilómetros para nascer e voltar em estrada de picada*- e camioneta de carga.Valente Miúda e Mãe!Numa noite em que talvez o contentamento me induziu a insónia, vou até á pequena varanda fronteira á casa e aí numa cadeira de mangonha – o mesmo que de preguiça, e contemplando o céu inundado de um imenso e belo luar, pensando e gozando mais o acontecimento, reparo que no céu corre um rasto de luz e depois outro que deixavam uma pequena estrada de nuvem que logo se desfazia.Encantado pensei na grandeza de Deus e da Natureza. Mas logo a seguir recorre uma autentica chuva daquelas estrelas que não propriamente me atemorizou mas me causou tal espanto que pasmei, admirei e fiz augúrios bons para a minha filha e família. Estávamos então no fim do mês de Agosto e relembrei o pouco que na escola aprendi sobre estrelas cadentes ou chuva de estrelas e lá consegui relacionar o fenómeno pela primeira vez visto por mim com tal intensidade. Alguns anos passaram…Os tempos mudaram e o meu local de trabalho já não era o mesmo. Estava a muitos quilómetros de distância – cerca de 900, e na Companhia Mineira na Jamba.A guerra começou a instalar-se com pequenos episódios depois dos primeiros Comícios dos vários Partidos Políticos por todo o País em várias línguas incompreensíveis, quase, para nós e a instabilidade foi retomando o lugar da calma prejudicando o trabalho e o viver.Com o matraquear das armas apercebemo-nos de que tudo iria mudar. A desconfiança nas pessoas e a aparição de guerrilheiros nas ruas que facilmente apontavam as armas a quase tudo o que mexia, que o faziam em especial aos “brancos” causava uma sensação de medo e incertezas que nos deixavam perceber que segurança era palavra ali perdida.Muitas noites passei mudando de casa para casa, não para dormir mas para tentar diminuir o risco e no ar também via uma “chuva de estrelas” que lembrei nada tinha a ver com a de 1960.Aqueles rastos atroadores e luminosos iam sim em direcção ao alvo mas para matar, para espalhar a tragédia.Para quê? Para eliminar aqueles que foram obrigados a lutar contra seus irmãos para garantir ou tentar obter a supremacia do poder para o oferecer a quem os enviou para o corredor da morte. No fim nem um agradecimento e nem sequer uma mudança de vida para melhor.Afinal as luzes nos céus nem sempre são chuvas de estrelas belas e benignas mas podem ser sinais de morte e de ódio.Já contemplei ambas em 1960 e em 1974, para mim o ano da Vida e o ano da Morte respectivamente… De- Augusto Rebola "Crónicas da CADA" Esta foi a 14ª Edição. NGA SAKIRILA KINENE!! MBOIM !! :) AVISO-Estes escritos estão registados e protegidos pelo IGAC |
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